Por alguns minutos da manhã da última segunda-feira, o aposentado Clóvis Barcelos, 66 anos, teve nas mãos calejadas de quem já trabalhou muito o dinheiro para bancar a reforma na casa humilde em que vive com a esposa em Antônio Prado. Mas imaginar esse e outros destinos para cerca de R$ 40 mil que encontrou numa sacola caída em frente a uma loja, ele só fez depois de garantir que a quantia encontrasse o verdadeiro dono, um empresário do interior do município.
_ Nessa crise em que a gente está, todo mundo precisa de dinheiro. Todos os carnês que eu tenho pra pagar dão uns R$ 10 mil. Mas tem que ser dinheiro limpo. Não é derrubando alguém que a gente vai pra frente _ comentou seu Clóvis na tarde desta quarta-feira, diante de uma xícara de café no bar que diariamente frequenta nas primeiras horas do dia.
O aposentado conta que foi desse mesmo bar, na avenida principal da cidade, que ele saiu por volta das 9h30min de segunda-feira, repetindo a rotina que inclui parar em outro bar para comprar cigarros e depois seguir para casa. No caminho entre um bar e outro, Clóvis passava distraído em frente a uma loja de departamentos quando pisou em uma sacola plástica amarela. O volume chamou a atenção e ele abriu. Ao ver que havia muito dinheiro, entre cédulas e cheques, e alguns documentos, deixou o envelope em uma loja de peças automotivas próxima, cujo dono conhecia e confiava.
_ Ele (o dono da loja) é mais acostumado com dinheiro e teria mais facilidade pra descobrir quem era o dono. Só fiz a minha parte, como meu pai me ensinou desde criança _ conta Clóvis, que complementa a renda de um salário mínimo da aposentadoria com alguns bicos como ajudante de encanador, pelos quais ganha cerca de R$ 40 por dia.
Valmir Ghinzelli, dono da loja de peças, identificou o dono do dinheiro, empresário que mora na localidade de Santana, cujo nome e telefone constavam no malote que seria depositado no banco. Quando o empresário, que não quer se identificar, recuperou a soma perdida, deixou R$ 50 como uma pequena ajuda, mas ressaltou que queria conhecer pessoalmente a pessoa generosa que impediu o prejuízo.
"Meu preço é minha sinceridade"
Nesta quarta-feira, enquanto atendia a reportagem, Clóvis recebeu uma ligação do dono do dinheiro, que o agradeceu e perguntou o que ele consideraria uma recompensa justa. Sem jeito, Clóvis desconversou:
_ Meu preço é minha sinceridade. Eu entreguei o dinheiro porque era a coisa certa, não porque queria algo em troca.
Do outro lado da linha, o empresário arriscou a oferta:
_ Se tu não me der um preço, de coração eu quero te dar um salário mínimo, R$ 800,00. Se não quiser dinheiro, vamos no supermercado e te pago um rancho. Porque tu foi a pessoa certa. Eu sei que muita gente não faria o mesmo que tu fez.
Como Clóvis continuava sem jeito, ficaram de se encontrar pessoalmente para o devido agradecimento e acerto de uma recompensa. Quando entrou em casa e foi recebido pela esposa, Dejanira Barcelos, 60, apenas ponderou baixinho:
_ Com R$ 800 dá pra pagar umas três prestações na Magazine Luiza.
A reforma na casa, tão sonhada e até provocada pela esposa quando a comunicou da quantia que deixou de tomar posse, ainda deve levar um bom tempo. Mas a tranquilidade por ter feito a coisa certa, Clóvis terá pra sempre. [Fonte: ClicRBS]
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